A capital gaúcha poderá ter a primeira experiência de inventário de
patrimônio arquitetônico com caráter colaborativo realizado pela
sociedade civil no Rio Grande do Sul. A concepção de “inventário
afetivo”, ainda em construção, será discutida com a comunidade
interessada na quarta-feira.
Recente caso de demolição no bairro Moinhos de Vento, em Porto
Alegre, suscitou discussões nas redes sociais. O prédio localizado na
Av. Mostardeiro, e que não era inventariado como de interesse para
preservação, mobilizou alguns moradores e simpatizantes, que realizaram
um protesto pacífico em frente ao local. “Um inventário e uma demolição:
não é uma questão de crítica, há algo errado” afirma Tárik Matthes,
moderador do grupo “Defesa do Patrimônio Histórico e Cultural de Porto
Alegre” no Facebook.
O caso da demolição evidenciou o desgaste de parte das políticas
públicas de preservação, em especial os inventários de patrimônio
cultural de Porto Alegre e seu descompasso com o que a população entende
como de interesse para preservar. Neste sentido, surgiram ideias no
grupo que visavam a realização de um inventário provisório pela própria
sociedade civil. Buscando a implementação da ideia, o delegado da Defender Jorge Luís Stocker idealizou um sistema colaborativo de “Inventários Afetivos”,
consistindo em fichas a serem preenchidas voluntariamente pela
comunidade interessada de forma a sistematizar a defesa do patrimônio.
“Num primeiro momento o preenchimento deve acontecer sem amarras
técnicas, tudo o que tiver valor afetivo para a comunidade pode ser
cadastrado. A escala de valores da própria ficha poderá ajudar a pensar o
valor enquanto patrimônio dentro da realidade de cada edificação.” –
explica Jorge Luís Stocker Jr., que coordena um grupo de defesa do patrimônio cultural no Vale do Sinos, onde também pretende incentivar a aplicação do projeto – “A
proposta é singela e por isto tem um poder enorme de utilização livre em
diversas localidades. A inexistência de inventários técnicos ou os
inventários insuficientes são comuns em muitas cidades. A elaboração de
um material sobre as edificações pela própria sociedade intensifica a
sua relação afetiva com o patrimônio, registra uma etapa da atuação da
sociedade civil, levanta dados e pode ser um documento importante para
buscar o poder público, o ministério público e os órgãos de preservação,
conforme for o caso”..
O arquiteto Lucas Volpatto, um dos integrantes do grupo no Facebook e entusiasta da ideia, ressalta
que “não se pretende substituir os inventários técnicos, mas marcar o
posicionamento da sociedade civil, chamar a atenção dos poderes públicos
para o que tem valor para a comunidade ou ainda para o que tem valores
culturais intrínsecos que tem sido ignorados pelas políticas de
preservação”.
O encontro acontecerá no dia 16 de janeiro, às 18 horas no Café do
Porto. Será uma oportunidade de discutir formas e aplicação experimental
do projeto, sendo que a formatação final da proposta de Inventários
Afetivos/Colaborativos será resultado do que for decidido pela própria
comunidade interessada em aplicá-la. O projeto no bairro Moinhos de
Vento poderá ser pioneiro, servindo de base para sua futura adoção em
outras áreas e municípios.
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