sexta-feira, 28 de maio de 2010

Projeto apresentado pela Prefeitura Municipal de São Leopoldo causa polêmica no Vale dos Sinos




Ao apresentar uma proposta de Centro Administrativo para a cidade de São Leopoldo, a  Prefeitura Municipal da cidade envolveu-se em uma grande polêmica com o meio acadêmico e profissional de Arquitetura e Urbanismo. O projeto, que deverá ser assinado na sexta-feira (28 de maio), propõe um volume em altura, a ser implantado na vizinhança do patrimônio histórico da cidade.
Atribuídos ao arquiteto alemão Johann Grunewald, a Igreja Nossa Senhora da Conceição e o antigo seminário Jesuíta, hoje pertencente à Unisinos, situam-se em frente Praça do Imigrante, localizada à beira do Rio dos Sinos – local onde teriam desembarcado os primeiros imigrantes alemães. Juntos, estes bens formam o que se poderia denominar “coração histórico” da cidade.
Construída, a proposta da Prefeitura neste terreno vizinho causaria uma interferência na escala urbana do entorno, além da irreversível obstrução das visuais e das perspectivas possíveis do conjunto histórico.  O projeto não apresenta, ainda, soluções para o fluxo de pessoas e carros, bem como o funcionamento das linhas de ônibus que hoje circulam no local.
A polêmica maior, no entanto, reside no fato do projeto apresentar fachadas revestidas com traves, imitando a técnica “enxaimel”, típica das casas de imigração alemã. A imitação histórica é recriminada pelos arquitetos – e pelas próprias convenções patrimoniais aceitas internacionalmente, adotadas pelo IPHAN.
Informada dos abaixo-assinados organizados pela classe profissional e pelos diretórios acadêmicos, a Prefeitura já teria sinalizado a readequação das fachadas, removendo as características “enxaimel”. Ficariam inalterados, porém, o problema do conflito de escalas com o entorno histórico, e a inadequada resolução dos acessos e fluxos de pessoas.
Em contraponto ao questionável projeto, os arquitetos e Diretórios Acadêmicos da Unisinos e Feevale defendem a proposta do escritório paulista Brasil Arquitetura. Dos mesmos autores do premiado Museu do Pão, de Ilópolis (RS), a proposta faz parte do Projeto Revita e teria sido desenvolvida anteriormente por encomenda da mesma Prefeitura, em parceria com a Unisinos. O projeto, além de propor uma integração maior com a malha urbana e com todo entorno histórico, propõe volumes horizontais para o centro administrativo, sem interferir na visibilidade do patrimônio cultural. Além disso, cria espaços públicos interessantes para receber as pessoas no local, além de prever um museu missioneiro e outros espaços qualificados.
A oportunidade de pensar o espaço urbano como um todo pode ser perdida, caso o projeto apresentado pela Prefeitura Municipal venha a ser realmente concretizado. E perde-se a oportunidade, ainda, de qualificar e valorizar o entorno histórico, devolvendo a parte nobre do espaço urbano para a população e para os turistas. Qualquer intervenção posterior no entorno ficará desvalorizada com a presença do bloco em altura.
Jorge Luís Stocker Jr. – acadêmico de Arquitetura da Universidade  Feevale | autor do blog Die Zeit http://dzeit.blogspot.com