Ao apresentar uma proposta de Centro Administrativo para a cidade de
São Leopoldo, a Prefeitura Municipal da cidade envolveu-se em uma
grande polêmica com o meio acadêmico e profissional de Arquitetura e
Urbanismo. O projeto, que deverá ser assinado na sexta-feira (28 de
maio), propõe um volume em altura, a ser implantado na vizinhança do
patrimônio histórico da cidade.
Atribuídos ao arquiteto alemão Johann Grunewald, a Igreja Nossa
Senhora da Conceição e o antigo seminário Jesuíta, hoje pertencente à
Unisinos, situam-se em frente Praça do Imigrante, localizada à beira do
Rio dos Sinos – local onde teriam desembarcado os primeiros imigrantes
alemães. Juntos, estes bens formam o que se poderia denominar “coração
histórico” da cidade.
Construída, a proposta da Prefeitura neste terreno vizinho causaria
uma interferência na escala urbana do entorno, além da irreversível
obstrução das visuais e das perspectivas possíveis do conjunto
histórico. O projeto não apresenta, ainda, soluções para o fluxo de
pessoas e carros, bem como o funcionamento das linhas de ônibus que hoje
circulam no local.
A polêmica maior, no entanto, reside no fato do projeto apresentar
fachadas revestidas com traves, imitando a técnica “enxaimel”, típica
das casas de imigração alemã. A imitação histórica é recriminada pelos
arquitetos – e pelas próprias convenções patrimoniais aceitas
internacionalmente, adotadas pelo IPHAN.
Informada dos abaixo-assinados organizados pela classe profissional e
pelos diretórios acadêmicos, a Prefeitura já teria sinalizado a
readequação das fachadas, removendo as características “enxaimel”.
Ficariam inalterados, porém, o problema do conflito de escalas com o
entorno histórico, e a inadequada resolução dos acessos e fluxos de
pessoas.
Em contraponto ao questionável projeto, os arquitetos e Diretórios
Acadêmicos da Unisinos e Feevale defendem a proposta do escritório
paulista Brasil Arquitetura. Dos mesmos autores do premiado Museu do
Pão, de Ilópolis (RS), a proposta faz parte do Projeto Revita e teria
sido desenvolvida anteriormente por encomenda da mesma Prefeitura, em
parceria com a Unisinos. O projeto, além de propor uma integração maior
com a malha urbana e com todo entorno histórico, propõe volumes
horizontais para o centro administrativo, sem interferir na visibilidade
do patrimônio cultural. Além disso, cria espaços públicos interessantes
para receber as pessoas no local, além de prever um museu missioneiro e
outros espaços qualificados.
A oportunidade de pensar o espaço urbano como um todo pode ser
perdida, caso o projeto apresentado pela Prefeitura Municipal venha a
ser realmente concretizado. E perde-se a oportunidade, ainda, de
qualificar e valorizar o entorno histórico, devolvendo a parte nobre do
espaço urbano para a população e para os turistas. Qualquer intervenção
posterior no entorno ficará desvalorizada com a presença do bloco em
altura.
Jorge Luís Stocker Jr. – acadêmico de Arquitetura da Universidade Feevale | autor do blog Die Zeit
http://dzeit.blogspot.com